(ENEM) RESUMO DA OBRA "BRÁS CUBAS"
- Débora Pluvie
- 22 de fev. de 2021
- 5 min de leitura

Pessoal,
hoje a gente faz mais um "resuminho do amor" versão CHAMA TODO MUNDO DA VIDA, pois falaremos sobre o romance mais cobrado em vestibulares brasileiros e do autor de prosa mais relevante em concursos de Ensino Médio, Machado de Assis.
Machado foi um poeta, dramaturgo e funcionário público carioca – no entanto, onde ele mais se destacou e deixou marcada a História da Literatura foi no Romance. Nesse sentido, ele aparece em quase todas as provas e, provavelmente, já deu as caras em algum momento da tua vida.
Para a alegria geral da nação vestibulanda e pra você que quer encontrar o defunto autor, fiz esse resuminho “bizu” com os aspectos mais relevantes.
“De dois grandes namorados, de duas paixões sem freio, nada mais havia ali, vinte anos depois; havia apenas dois corações murchos, devastados pela vida e saciados dela, não sei se em igual dose, mas enfim saciados.”
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas :São Paulo: Martin Claret, 2003.
Sem receios nem pudores, três anos após a morte de José de Alencar – pai do romance brasileiro, Machado de Assis trouxe Memórias póstumas de Brás Cubas. A história de um defunto (morto mesmo) que resolve contar seu tempo em vida transgrediu tudo aquilo que era conhecido como romance. Vale a lembrança que o livro foi publicado em 1881 – quando a literatura de prestígio até então era pertencente ao romantismo. Assim, os ideais visionários nesse momento são corrompidos por completo, dado que Brás Cubas, para alguns, inaugura o Realismo aqui no Brasil.

Pois bem, a partir do título é possível uma breve noção do conteúdo da obra. Nesse sentido, o romance narra as vivências de um autor já morto. A inovação aqui se faz devido ao fato de próprio autor defunto contar suas memórias. Assim, vê-se que as memórias não se tratam se um autor defunto, mas de um defunto autor - já que ele morreu antes de expor sua narrativa. Brás Cubas conta seu enredo a partir de sua morte, com amargor de uma vida supostamente vazia em que o dinheiro se fez presente, mas o reconhecimento público não apareceu. Desse modo, a hipocrisia e a ironia – veias marcantes do autor – são espécies de protagonistas no texto.
“Nesse livro, ousadamente, varriam-se de um golpe o sentimentalismo superficial, a fictícia unidade da pessoa humana, as frases piegas, o receio de chocar preconceitos, a concepção do predomínio do amor sobre todas as outras paixões; afirmava-se a possibilidade de construir um grande livro sem recorrer à natureza, desdenhava-se a cor local; surgiram afinal homens e mulheres, e não brasileiros (no sentido pitoresco) ou gaúchos, ou nortistas, e, finalmente, mas não menos importante, patenteava-se a influência inglesa em lugar da francesa.”
Lúcia Miguel-Pereira, História da Literatura Brasileira – Prosa de ficção – de 1870 a 1920. Adaptado.
Nesse contexto, a emblemática dedicatória também sugere o teor de inovação de Machado:
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes
do meu cadáver dedico como saudosa
lembrança estas Memórias póstumas.”
Vê-se, então, as Memórias póstumas de um defunto autor sem filtros e sem compromissos; e é a partir dessa ausência de filtros que sua linguagem é baseada. Sabe-se que Machado constrói sua obra crítica não por um molde, mas por recriação. Isso, pois a todo o momento a linguagem é capaz de desafiar o leitor. Machado, por outro lado, não parte do zero em questão de originalidade temática. Vale a lembrança que não foi a primeira vez que alguém escreveu sobre um morto. Chateaubriand, escritor, ensaísta, diplomata e político francês – citado nas próprias Memórias póstumas, escreveu o Memórias do Além Túmulo. Entretanto, nesse existe um autor no fim da vida que escreve um livro para ser lido após sua morte.
O romance, em sua essência é uma história que se conta a um determinado grupo de indivíduos. Assim, é provável que um romancista tenha consciência de quem lerá sua arte final. Partindo para o outro lado da sua preferência de escritor autobiográfico e sua afinidade com um humor dito sarcástico, as referências ao leitor são inúmeras nas Memórias – sendo o eixo do tipo de tratamento o verbo em terceira pessoa e o vocativo. Evita-se, desse modo, uma intimidade exacerbada com quem o lê, evitando você como tipo de tratamento. O sujeito explícito do verbo, comumente é o leitor, os leitores – que, segundo Mattoso Câmara, “assinalaria claramente um interlocutor silencioso, se é lícita a expressão”. Assim, a conversa com o leitor passa a sensação que ele não está totalmente perdido; é uma espécie de acompanhamento à confusão presente no texto. Machado, então, quebra todas as expectativas desse leitor que finge estar perto dele. Isso pode ser observado da seguinte maneira:
"Veja o leitor a comparação que melhor lhe quadrar, veja-a e não esteja daí a torcer-me o nariz, só porque ainda não chegamos à parte da narrativa destas memórias."

"Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus."
Dialogando com o leitor, Brás Cubas carrega 145 curtos capítulos em que expõe os notórios episódios da religiosidade superficial de sua infância; da juventude, resgata o envolvimento com uma prostituta de luxo, Marcela. Narra também que depois de retornar de uma temporada de estudos na Europa, vive uma realidade de jovem rico, despreocupado e fútil. Assim, conhece a filha de D. Eusébia, Eugênia, e a despreza por ser manca. Envolve-se também com Virgília, uma namorada da juventude, agora casada com o político Lobo Neves. À Virgília atribui grande parte do romance, dada sua importância. O adultério, então, dura muitos anos, mas se desfaz. Brás ainda se aproxima de Nhã Loló, sobrinha de seu cunhado Cotrim, mas a morte da moça interrompe o projeto de casamento. Desse momento até o fim de seu tempo em vida, Brás se dedica à carreira política, que exerce sem talento, e a ações beneficentes, que pratica sem nenhuma paixão.
Interessante é observar também que no hiato de sua vida, um elemento se sobressaiu: O humanitismo. Essa era uma teoria do filósofo Quincas Borba que defendia a supremacia do “império da lei do mais forte, do mais rico e do mais esperto” – sendo a clara crítica às teorias positivistas e evolutivas.Por fim, o saldo do enredo é resumido deste modo:
"Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."
Pessoal, por hoje é isso.
Beijão.
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