Redação nota 1000 - Os desafios da adoção no Brasil
- Débora Pluvie
- 3 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
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De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, é direito do indivíduo o acolhimento de uma família, a qual proporcione um local adequado para viver e crescer. Entretanto, essa garantia não é percebida em sua totalidade no Brasil contemporâneo, na medida que uma exacerbada estereotipação junto de uma ineficiência do Sistema Público configuram-se como os desafios da adoção em nosso país.
Em uma primeira análise, é indiscutível que a alta seletividade quanto ao perfil dos possíveis adotados contribui para a permanência das crianças e jovens nos abrigos. Segundo os pensamentos de Nietzche, destarte, a sociedade apresenta um padrão estético considerado ideal, de modo que exerce uma direta influência na excessiva busca pela perfeição. Nessa perspectiva, percebe-se que tamanho raciocínio é amplamente vinculado ao sistema de adoção, uma vez que há uma aberta preferência, por parte dos futuros pais, por determinadas características, como a da menina de pele clara, menor de quatro anos e com perfeita saúde. Por conseguinte, ocorre a formação de um duplo problema, haja vista que a expressiva padronização estética favorece o aumento das filas das crianças e jovens considerados erroneamente como ideais e, também, a pequena busca dos que fogem a tais padrões - sendo, inexoravelmente, os que sobram - o que contribui para a permanência de ambos casos nas casas de abrigo. Dessa forma, torna-se necessário erradicar o indevido pensamento de que a adoção é o meio capaz de os adultos conseguirem saciar seus desejos paternos para que, paulatinamente, possa existir um consenso de a prioridade ser o oferecimento de uma família saudável a essas crianças.
Além disso, é imprescindível evidenciar a importância dos governantes, na medida que são esses os responsáveis por garantir a harmonia e o respeito entre os cidadãos e, principalmente, o avanço da Nação. Todavia, esse progresso mostra-se freado no país, posto que os responsáveis pela gestão nacional tendem a, metaforicamente, rasgar todos os dias a Constituição do Brasil por apresentarem uma postura que resulta numa quebra constante do vínculo ético e moral do respeito às garantias previstas a toda população. Essa conduta é observada na letargia do sistema de adoção, haja vista que os juízes, profissionais que deveriam aumentar a velocidade dos processos, tomam respaldo em um artigo que afirma ser importante esgotar todos os possíveis meios à reintegração à família biológica para que, posteriormente, possa haver a liberação da criança e jovem para a adoção - algo que, em muitos casos, leva anos. Nesse sentido, a angustiante burocracia vai de encontro aos dizeres de Durkheim que levantam a importância de todos os agentes
sociais atuarem de forma eficiente para que os processos sociais ocorram corretamente. Como consequência, as crianças envelhecem na espera da liberação judiciais, algo que contribui para as suas permanências nos abrigos.
É possível perceber, portanto, que as adoções são travadas devido a uma alta seletividade junto de uma exacerbada burocracia. A fim de atenuar o problema, as escolas devem aumentar o número de aulas de Sociologia, com encontros interativos e debates, além de fornecerem atividades que propiciem as campanhas de ida dos alunos aos abrigos, para estimular um maior engajamento e contato com as crianças abandonadas - de modo que seja possível a formação de cidadãos mais conscientes da real importância da adoção. Outrossim, o Estado deve aumentar o número de concursos públicos de juízes especializados em adoção, para que se torne possível estimular a velocidade dos processos e, então, permitir que tantos jovens, enfim, recebam suas famílias. Assim, com as devidas mudanças realizadas, poderemos esperar uma maior quantidade de reconstruções familiares por meio de adoções, respeitando, com atraso, mas não tarde demais, as diretrizes da Constituição de 1988.
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