(Sobre) voar
- Débora Pluvie
- 15 de fev. de 2021
- 2 min de leitura

Era mais uma tarde de domingo quente no Rio de Janeiro quando encontrara um filhote de sanhaço-coqueiro, um passarinho que quando adulto tem sua penas azuladas e seu corpo gordinho. Ele e Felipe o acharam no chão bem na frente da travessa que moravam. Por conta dos muitos passarinhos o colega já criava, Thiago decidiu que o levaria para casa para ver se o bichinho se recuperava do aparente atropelamento que sofrera.
Conforme o tempo passou, Bidu – já conhecido por todos da família, muito por conta das gracinhas que fazia – foi se alimentando, mesmo na seringa. Mais uns dias correram e a água já fazia parte de sua dieta. Bidu finalmente cresceu e ficou forte, não era mais aquele “projeto de passarinho” que cruzara seu caminho naquela tarde.
Já adolescente, o colocara dentro de um viveiro e já muito acostumado com Thiago, ele ia em sua mão pegar as frutinhas que levava. Isso sempre após receber um carinho na cabeça que, aparentemente, aguardava de modo ansioso. Certa vez, estava sozinho e resolveu soltá-lo dentro de casa. A ideia, como você pode imaginar, não foi das melhores. De fato, não deu certo – teve que voltar para gaiola. Sempre teve o sentimento de deixá-lo ir. No entanto, ele não sabia o que era sobreviver fora dali, procurar sua comida e se adaptar ao seu ambiente.
Por mais feliz que fosse a vida de Bidu, ficava claro que quando ele via os outros passarinhos soltos, cantando pela manhã, seu instinto gritava. Bidu ficava maluco. Ele cantava, dançava e se debatia para chamar a atenção dos outros amigos de espécie.
Passou um ano, um ano e meio, e sua mãe foi colocar fruta para ele dentro da gaiola. Foi a oportunidade que Bidu vinha aguardando todo aquele tempo. Assim que ela abriu, o voador não se espantou. Parece que pensou “agora que está aberto, vou passar”. Não sei se vocês sabem, mas quando o passarinho é “brabo” ele se espanta, mas parece que não sabe para onde vai. Com Bidu foi diferente. Quando D. Maria foi colocar a comidinha, ele passou determinado a exercer sua liberdade natural. Saiu cantando como se despedisse e agradecesse por todo amor e cuidado que recebera.
Depois disso, nunca mais o viram. Não sabem se ele reintegrou à natureza e finalmente alcançou sua família, se ele, mais uma vez, passou por apuros e morreu.
Verdade é que nunca sabemos o que nos espera e, mais que isso: nunca se sabe quando nosso instinto gritará mais alto.
Agradecimente especial a Thiago Pluvie pelo conto e por todas as tardes que fizeram parte da nossa infância.
Comments