(UERJ 2021) REDAÇÃO EXEMPLAR
- Débora Pluvie
- 14 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
O QUE LEVA INDIVÍDUOS, EM PLENO REGIME DEMOCRÁTICO, A DEFENDEREM REGIMES AUTORITÁRIOS?
Ignorância é Força: um lema totalitário
Pensamento-crime: crime essencial que, englobando todos os outros, permitia a supressão e morte dos seres e das suas faculdades mentais, sendo necessária a flexibilidade incessante dos fatos para evitá-lo. Esse processo expressa, no distópico romance “1984”, de George Orwell, as incoerências presentes em um cenário no qual a ortodoxia do Partido governante, sobrepujando o ideal de liberdade, instituía um processo de “inconsciência consciente”, determinado pela defesa, ao mesmo tempo, de duas opiniões contraditórias; algo teoricamente impossível, porém, capaz de consolidar um estado mental predominante: o da insanidade comedida. Nesse contexto, a instauração de símbolos nacionais – como a Novafala e o Grande Irmão –, a preservação de uma ideologia única e a reconstrução das falsas versões da História propiciavam a manipulação e o controle dos pensamentos e perpetuavam, desse modo, o poderio do Partido. Tal acontecimento, entretanto, não está restrito apenas à ficção de Orwell, haja vista que, hodiernamente, múltiplos Estados utilizam mecanismos de alienação para conquistar autoridade, preservando a hierarquia social desigual como justificativa para as diversas barbáries impostas às classes menos favorecidas. Com efeito, a manutenção de uma sociedade conservadora e a homogeneidade de ideias representam os principais meios de dominação e irreflexão que levam os indivíduos, em uma plena democracia, a defenderem regimes autoritários.
O conservadorismo extremo e sem fundamentação sustenta, em uma primeira análise, a existência de um estigma discriminatório que impossibilita a implementação de um Estado efetivamente democrático. Sob esse prisma, em diversos momentos da História, governos totalitários, objetivando a soberania, estabeleceram mecanismos de controle como forma de limitar a difusão de ideologias e evitar pensamentos divergentes dos pretendidos, o que acarretou o enaltecimento dos valores tradicionais, de modo a expressar a defesa, por parte do corpo social, de um sistema de governo autoritário que pudesse dar conta de suas demandas pessoais, bem como observado em dias como os nossos. A exemplo, a Alemanha Nazista idealizou e propagou a pseudociência da Eugenia para propor a superioridade da raça ariana e legitimar os atos bárbaros infligidos a judeus, homossexuais e negros no período do Holocausto, e o próprio Brasil Império inaugurou o Darwinismo Social que, propondo a sobrevivência dos mais aptos – física, moral e intelectualmente –, definiu uma “política de branqueamento” da população como tentativa de rejeitar a miscigenação; conjunturas nas quais as práticas de tortura e agressão eram o princípio norteador da comunidade extremamente hipócrita. Hoje, na “Era da pós-Verdade”, Estados ainda almejam a alienação da população e instituem organismos coercitivos para impedir a diversidade e alterar dados estatísticos e históricos referentes às políticas nacionais, assegurando a preservação de uma ideologia dominante homogênea que, apesar de consolidar um horizonte de desigualdades, em defesa da religião, do nacionalismo e da família convencional, corrobora a adesão e o apoio dos dominados a partir de um viés saudosista. Por conseguinte, essa violência, extremamente opressora, infringe direitos constitucionais – como à dignidade humana –, dificultando o reconhecimento da condição de submissão, o que leva os indivíduos a defenderem, mesmo em um regime democrático, o totalitarismo.
Para mais, a uniformidade de ideologias perpetua a manutenção de um regime autoritário à medida que fomenta a inércia do corpo social e, em consequência, a deslegitimação de lutas históricas. Nesse sentido, Estados totalitários hodiernos, como a China – que utiliza campos de reeducação para doutrinar muçulmanos quanto aos valores nacionais –, ou até mesmo fictícios, como o arquitetado na província de Oceânia, em “1984" – que idealizou a Polícia das Ideias - , instituem mecanismos repressivos para manipular as comunidades e limitar os pensamentos, sustentando, em toda parte, uma mesma estrutura piramidal padronizada, responsável pela instauração da “desliberdade” e da “inigualdade”, principais entraves para a democracia, mas que atendem aos ideais de quem está no topo de tal pirâmide, o que fortalece a defesa das ideologias desse grupo. No entanto, essa hierarquia, ao impedir a tolerância às diferenças e ampliar as práticas discriminatórias, minimiza o convívio entre as mais diversas culturas - fundamental para a conquista de um consenso que, segundo o reconhecido sociólogo Jürgen Habermas, consolida o agir comunicativo, capaz de restaurar a ordem e assegurar o bem coletivo. Além disso, uma sociedade homogênea e alienada permanece em constante papel de inatividade e não delibera acerca de múltiplos problemas sociais, por exemplo, o racismo, a homofobia e o patriarcalismo, pautas negligenciadas relacionadas às classes menos favorecidas, que necessitam da atuação de outros indivíduos para adquirir visibilidade e, assim, garantir os direitos em um governo despótico. Dessa maneira, a supressão do pluralismo, preservando as desigualdades e os privilégios de determinadas categorias, ratifica a defesa, por parte dessas, do autoritarismo, ainda que em um regime democrático.
Como a população de Oceânia – contexto da obra “1984” –, diversas pessoas ainda são submetidas a um processo de “inconsciência consciente” por Estados totalitários, que, visando à manutenção da autoridade e da superioridade, manipulam a História para a preservação de uma ideologia única e dos símbolos nacionais. Por consequência, há a padronização dos pensamentos, o que impede o convívio ativo de diferentes línguas, culturas e princípios e mantém a composição de uma comunidade hierárquica homogênea que não valoriza o respeito e a equidade. Sustento, portanto, que é primordial a desestruturação da sociedade conservadora e da homogeneidade, pilares ímpios que justificam e levam indivíduos, em pleno regime democrático, a defenderem regimes autoritários. Portanto, das câmaras de gás da Alemanha Nazista aos campos de concentração da chineses, e desses ao emblemático quarto 101 do Ministério do Amor, o duplipensar fez-se presente e instituiu, junto à insanidade controlada, a ortodoxia do pensamento-crime, que sobrepuja, ainda hoje, o ideal de liberdade.
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