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Um conto sobre possibilidades

  • Foto do escritor: Débora Pluvie
    Débora Pluvie
  • 15 de fev. de 2021
  • 3 min de leitura

As possibilidades de felicidade são egoístas, meu amor. Viver a liberdade, amar de verdade, só se for a dois... só a dois.

Cazuza

Lara e eu somos amigas há mais ou menos uns quatros anos, mas parece que quando eu nasci ela estava lá presente, comemorando minha chegada junto aos meus pais; é uma espécie de irmã mais velha; vezes mais, vezes menos responsável que eu.


Nossa afinidade começou no dia que homem responsável por me deixar apaixonada por 517 dias finalmente me procurou de volta. Eu precisava de opiniões, ela morava sozinha, era extremamente colada com uma amiga nossa, tinha vinho em casa e topava fazer parte dessa audiência que decidiria se eu responderia a mensagem do ex ou não - era perfeito. Todas as amigas convocadas, confortavelmente jogadas em sua varanda e por meio dos mais absurdos argumentos, decidimos que... bom! Isso é assunto pra um próximo texto.


Verdade é que entre uma loucura e outra, ela me disse que seu signo era Áries com ascendente em Capricórnio e certa vez me falaram que eu era Capricórnio com ascendente em Áries – isso até eu descobrir um ano depois que, na verdade, meu ascendente é Peixes. Não acredito muito nisso nessa coisa astrológica, mas Peixes é mais eu, sabe?! Whatever. Até hoje fingimos acreditar que somos um inverso astral uma da outra por conta desse dia.

Lara fez 30 anos, saindo de um casamento nada convencional e com um filho delicioso de lindo ao lado - ou seja, infinitamente mais vivida que eu.


Há um tempo, eu e ela solteiras, sexta à noite de chuva, descobrimos uma festa no Clube dos Macacos, aqui no Rio. Não conhecia o lugar, mas quando ouvi o nome, fiquei apavorada!


- Lara, tá chovendo, é noite e você quer me levar pro zoológico?


Delicada como um búfalo, fazendo jus a seu signo e seu ascendente, ela respondeu:


- Se arruma logo, em meia hora eu te busco.


Respeitando os mais velhos como me foi ensinado, coloquei meu vestido preto mais básico, meu salto mais alto e meu batom mais vermelho - pra não ter trabalho e cumprir a missão de estar pronta em meia hora. 37km depois, uma ponte, uma ladeira e alguns alagamentos, chegamos ao tal lar do Macacos com a maquiagem borrada e o cabelo mais enrolado que a minha vida naquele momento.


E valeu a pena!


O lugar era incrível, extremamente bem iluminado, bar sem confusões, cerveja não era cara, o banheiro era limpo, música boa e uma temática zero convencional - o nome da festa era "Era uma vez" e a decoração seguia a praxe do título que dava vida ao evento.


Entre um drink e outro, conhecemos gente bastante interessante. Conversei com um advogado que tinha há dois meses havia largado tudo pra cursar medicina; dei assunto pra um economista que morava em São Paulo e veio com os pais para curtir as praias do Rio...

Minha amiga, até então bem resolvida, avistou de longe com seu olhar de Thunder Cat que acabou de operar a miopia, o cara mais gato da festa. Não era alto ( e pra ela isso era perfeito), barba por fazer e um sorriso capaz de derreter qualquer coração minimamente fragmentado.


Assim, entre a Alice no País das Maravilhas e a Cinderella presentes na festa, vi de longe Lara trocar ideia com o tal Gato de Botas do sorriso mais lindo do Rio de Janeiro.

Isso até seu ex aparecer na festa.


Ela, confusa entre os dois, ficava a cada dez minutos revezando sua atenção entre aquele que ainda fazia a barriga gelar e esse que era a promessa de um novo amor - ou um novo gato.

Numa missão impossível digna de deixar Tom Cruise no chinelo, minha amiga decidiu tomar o caminho da roça com o ex. Fui junto, óbvio! Estava sozinha e alguém precisava me deixar em casa.


O Gato de botas ficou sem entender nada, vagando a festa inteira procurando minha companheira fugitiva. Algumas horas e neozaldinas depois, ela tomou coragem e respondeu sua mensagem que dizia:


- Menina, adorei te conhecer. Uma pena eu ter assinado meu divórcio HOJE e não ter tido mais tempo contigo. Não sei se mereço sua atenção, mas aqui está meu número.


Ela, fria como o inverno do Alaska disse que eles poderiam se encontrar numa próxima vez e essa outra ocasião até aconteceu – eles acabaram ficando em uma dois eventos mais tarde.

Fato é que dois anos se passaram, eles se cruzaram em algumas outras ocasiões, ela não vingou com o ex e o Gato ainda escreve a ela.


Vai dizer que as possibilidades de felicidade não são egoístas?


Eu e ela até hoje divagamos sobre as múltiplas possibilidades daquela noite dos Macacos, mas quem somos nós pra dizer o que poderia ter acontecido caso tivéssemos ficado em casa, caso fossemos jantar em um lugar mais perto, caso EU fosse observada pelo tal Gato de botas, caso ela não tivesse um ex, caso o Gato não tivesse se divorciado, caso, caso, caso... quem sabe?


Quase.

 
 
 

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