[REDAÇÃO 2021] - Abri a prova, vi o tema da redação. O que eu faço agora?
- Andrey Carvalho
- 2 de mar. de 2021
- 12 min de leitura

Você estudou durante meses, se preparou para o vestibular, fez dezenas de redações, estudou vários temas e quando chega no dia: deu branco. Você pega a prova, vê a proposta de redação e é um tema que você jamais podia imaginar (alô, ENEM). A insegurança bate e você não sabe nem o que fazer na introdução, mas calma, uma leitura atenta da proposta é a chave para saber como lidar com qualquer tema, então, fica a pergunta: você sabe ler bem uma proposta de redação?
Muita gente acha que é só pegar a frase que está ali como tema, pensar um pouquinho, e escrever, no entanto, não é bem por aí: muitos temas são mais complexos do que parecem à primeira vista, uma verdadeira cilada. Quanto mais simples um tema parecer, mais ciladas ele tem, e é preciso saber identificar essas pegadinhas das propostas de redação para se sair bem na escrita do texto. Mas antes da gente falar disso, é importante saber que tipo de banca propôs aquela redação.
No Brasil, existem dois tipos de vestibulares: o ENEM, que é de nível nacional, e os Estaduais, como a Fuvest e a UERJ. Essa diferença é importante na redação por um motivo: nas edições de 2020, o tema da redação do ENEM foi proposto para quase 6 milhões de alunos, o da UERJ foi pensado para quase 42 mil e a Fuvest, para pouco menos de 130 mil vestibulandos. É por isso que quando a gente lê a prova do ENEM, fica a impressão de que sempre são temas que não dá para ter muita discussão: não é para ter discussão mesmo, é preciso um direcionamento muito claro para os alunos. Imagine 6 milhões de redações defendendo pontos de vistas completamente diferentes de formas diferentes, isso não é viável porque não tem como garantir uma correção justa. Agora, na UERJ, por exemplo, já é possível que os alunos discutam mais porque são menos alunos: é mais fácil fazer alguma segunda ou terceira correção se as notas forem muito diferentes entre os corretores. Por isso, vão aqui as duas primeiras dicas para uma boa leitura dos temas:
Vestibulares nacionais têm temas fechados: o tema é aquilo que está escrito, é preciso ser contra ou a favor e nada mais.
Vestibulares estaduais têm temas abertos: é preciso fazer uma interpretação da proposta e uma discussão sobre o tema.
Isso entendido, é importante perguntar: como a gente pode perceber isso na proposta de redação? Para explicar isso, vamos comparar dois temas: o ENEM de 2019 e a UERJ do mesmo ano para a gente conseguir entender melhor o que é um tema aberto e o que é um tema fechado.

Esse foi o tema da redação do ENEM no ano de 2019; nesse ano, foi registrado um total de 6.384.957 alunos inscritos. Para dar conta de todas as redações de forma justa, a banca direciona o texto de modo que todos os alunos tenham mais ou menos a mesma linha argumentativa: se o tema é “democratização do acesso ao cinema no Brasil”, não há espaço para ser contra isso; quem seria contra a democratização da cultura e de um negócio tão legal quanto o cinema? Assim, os temas do ENEM sempre, sempre e sempre apresentam um direcionamento muito claro, como quando abordou a violência contra a mulher: quem é desumano a ponto de ser a favor disso? Essas redações nacionais, portanto, não são redações de discussão, de contraposição de pontos de vista e defesa de ideias divergentes para a construção de um consenso; o que se espera do aluno é uma problematização do tema. Assim, para esse tipo de vestibular, é importante ter em mente o seguinte:
Sempre problematize, faça perguntas ao tema tendo por base as palavras-chave que estão ali.
No exemplo, a democratização do acesso ao cinema no Brasil é uma coisa boa, que precisa ser defendida. Mas espera aí, se a gente precisa defender que ela aconteça, é porque ela não está acontecendo direito, certo? Então, fica a pergunta: por que isso não está acontecendo direito? E se eu sei por que isso não está acontecendo direito, eu posso dizer as coisas que precisam mudar para resolver esse problema: essa é a proposta de intervenção obrigatória na redação do ENEM. Por esse motivo dizemos que a redação do ENEM tem um tema fechado: o próprio tema, quando problematizado, já apresenta os pontos que precisam ser abordados no texto e qual o caminho a sua argumentação deve seguir. Daí em diante, é só escrever.
Agora você pode perguntar o seguinte: se o próprio tema já aponta como deve ser feita a argumentação, para que servem os textos motivadores? Eles servem para completar o tema, dando uma ordem aos argumentos e apresentando as principais ideias que você precisa apresentar no seu texto; ou mesmo fazendo a adição de algum problema secundário que seria interessante você abordar. É claro que você não pode copiar os textos motivadores, mas você pegar a ideia deles e desenvolver, da sua maneira, em favor do ponto de vista que o tema indicou. Então, uma outra dica muito valiosa é:
Anote a ideia central de cada texto motivador.
Vamos ver como isso acontece olhando os textos motivadores do tema que falamos antes: “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”.

Se lermos os textos com calma, vamos perceber que há uma ideia central sendo destacada em cada um deles. No Texto I, é apresentada brevemente a história de como se deu a popularização do projetor de cinema; no segundo texto, o destaque é para o cinema como modo de entender e compartilhar uma realidade subjetiva, pessoal; o terceiro faz um comparativo entre o hábito de frequentar o cinema e o hábito de assistir televisão; por fim, o último texto destaca a mudança na distribuição das salas de cinema pelo país e a sua concentração ao longo do tempo. Com isso em mente, a gente pode fazer um pequeno quadro que resuma a ideia dos textos:

Olhando com carinho, a gente pode notar o seguinte: essas sínteses são um pouco parecidas com as perguntas que fizemos lá em cima para o tema. E são mesmo, isso é proposital: os textos motivadores servem para guiar a argumentação, dar um direcionamento para as ideias que você tem sobre o tema. Assim, podemos organizar a seguinte lista de perguntas e respostas:
Por que a democratização do acesso ao cinema no Brasil é uma coisa importante? Porque o cinema é uma expressão da realidade, ele apresenta realidades, ideias, valores, visões de mundo distantes às pessoas (Texto II).
Por que é um problema o acesso ao cinema não ser democrático? Porque o cinema é um elemento muito importante, há mais de um século, para o entretenimento, para a construção de uma identidade de grupo, para unir as pessoas (Texto I).
Por que o acesso ao cinema, no Brasil, não é democrático? Porque há uma alta concentração dos cinemas nos grandes centros urbanos, impedindo que as populações periféricas, tanto das margens urbanas quanto do interior, tenham acesso a ele (Texto IV).
O que torna difícil democratizar o acesso ao cinema no Brasil? A falta de interesse da população pelo cinema devido ao grande número de alternativas para assistir filmes, que torna esse tipo de serviço pouco atrativo para as empresas (Textos III e IV).
Assim, identificando esses pontos levantados pelos textos em torno das perguntas que fizemos sobre o tema e os organizando em direção a uma proposta de intervenção, a maior parte da redação já estará pronta, garantindo um bom desempenho na Competência III: selecionar e organizar fatos, informações, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. No entanto, essas informações, para estarem bem-organizadas no texto, precisam estar logicamente relacionadas: essa relação lógica das ideias no texto se dá por meio dos conectivos e operadores argumentativos. Esses elementos são tão importantes no texto que tem uma competência só para eles, a Competência IV: demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. Nesse sentido, ao ordenar essas perguntas e respostas no sentido de produzir um texto coeso, um texto inteiro que possa ser lido de forma direta sem interrupções, sem que o leitor se perca demais, é importante ter claras as relações lógicas que esses pontos precisam ter: o que precisa ser dito antes, o que precisa ser dito depois, o que é causa do que, o que é consequência do que, e ter o cuidado de expressar essas relações por meio dos conectivos e operadores argumentativos corretos.
Feito isso, chegamos no território da temida Competência II: apresentar um repertório sociocultural pertinente, legitimado e com uso produtivo. Podemos pensar, para essa competência, que existe uma hierarquia do repertório que o aluno apresenta no texto: o repertório legitimado é o mais fácil, valendo 120 pontos, basta citar qualquer filósofo, sociólogo, etc.; o repertório legitimado e pertinente, valendo 160 pontos, já é mais específico porque precisa estar diretamente relacionado ao tema que está sendo abordado (se eu estou falando sobre a importância da democratização do cinema no Brasil, não faz sentido citar Aristóteles falando sobre o valor da poesia para a sociedade grega clássica). No topo, valendo 200 pontos, o repertório legitimado, pertinente e com uso produtivo é o mais complicado: ele precisa ser legitimado, ou seja, ser reconhecido pela sociedade como válido (órgãos de imprensa, pessoas que são referências em determinada área, algum fato que todo mundo tenha ouvido falar, uma música ou filme muito conhecidos, algum livro importante...), precisa ser pertinente (estar relacionado diretamente ao tema que você esteja abordando, de forma clara, sem grandes voltas para que a relação faça sentido) e ter uso produtivo, ou seja, ele precisa ser indispensável para o entendimento e para a validade do seu argumento. Um bom teste para garantir o uso produtivo de uma referência é observar o seguinte:
Se eu tirar a frase onde essa referência está do meu texto, o argumento continua fazendo sentido?
Se a resposta for sim, a referência não está sendo produtivamente usada, ela está ali apenas de enfeite!
Se a resposta for não, parabéns, a sua referência está sendo usada produtivamente no texto!


Com tudo já feito na sua redação, o seu texto já bem-organizado, com os argumentos ordenados na sua mente, a proposta de intervenção é o fecho de todas essas questões que você levantou, já que você apresentou o problema, mostrou que ele existe e porque ele precisa ser solucionado. Nesse sentido, é importante considerar que, como a intervenção é, geralmente, a conclusão do texto, a proposta precisa abordar o que foi apontado no seu desenvolvimento: se você apontou dois problemas, você precisa apresentar soluções para esses dois problemas. Isso é importante porque mesmo que você não perca pontos na Competência 5, já que ela considera apenas a proposta de intervenção com maior número de elementos (agente, ação, meio, objetivo, detalhamento de um desses elementos), você perde pontos na Competência 3, que trata da coerência e organização do texto: você apresentou uma ideia, uma questão, um problema que ficou solto no texto, sem o devido desenvolvimento, prejudicando a ordem do texto.
Para explicar melhor todas as ideias levantadas, e mostrar como elas entram na escrita da redação e a sua relação com as competências, vamos montar um pequeno esquema que pode servir de base para um redação que precise seguir essa proposta:
XXX
O que podemos ver é que numa proposta de tema fechado, como a do ENEM, a simples leitura atenta do tema e dos textos motivadores já traz todas as indicações possíveis para a elaboração de um bom texto. Em nenhum momento, ao longo da elaboração desse esquema final, eu fiz qualquer referência a algum texto que não estivesse na proposta ou falei de ideias que já não estivessem lá: a grande questão é ter cuidado para identificar essas ideias, essas perguntas, e organizar as respostas em torno de uma linha argumentativa, respeitando os aspectos que são avaliados nas competências II, III, IV e V. Por esses motivos, um bom planejamento de texto é fundamental, é isso que muitas vezes diferencia uma redação 600 de uma 1000: mesmo que o aluno escreva um texto lindo, ele pode estar falando de muitas coisas que não tenham nada a ver com o que está na proposta ou não falar de coisas que a proposta indica como fundamentais. Claro que, para escrever a redação no dia da prova, você não precisa montar esse esquema inteiro numa folha de rascunho da prova, mas é importante saber que ele existe, e que é preciso ter pelo menos algo assim em mente antes de escrever; essa é uma das dicas mais fundamentais:
Planeje o seu texto de acordo com a proposta.
Usar um esquema de texto que serve para qualquer tema, os chamados caveirões, deve ser sempre o último recurso, já que é muito evidente quando o texto é planejado e quando ele é apenas uma colagem do tema em cima de um texto já pronto. E nesse sentido, mesmo que os corretores acabem dando notas boas, eles não vão corrigir esse tipo de texto com a mesma boa vontade que corrigem um texto de autoria própria. É claro que é complicado, fazer essa leitura atenta da proposta, marcas coisas, fazer um rascunho, tudo isso é muito difícil numa prova tão corrida quanto o ENEM, e por isso há um número tão baixo de notas 1000; mas apesar disso, quando se estuda redação com calma, ao longo do tempo, quando se pega o hábito de produzir esses esquemas, é possível fazer eles quase instantaneamente ao ler a proposta sem nem precisar escrever.
Tudo que foi dito valeu para o ENEM, certo? Mas e quanto aos vestibulares estaduais, aqueles que eu disse que são de temas abertos? Por incrível que pareça, as coisas não são tão diferentes assim.
Vamos pegar o exemplo da UERJ:

No ano de 2019, a leitura obrigatória foi o livro O seminarista, de Rubem Fonseca. Como se vê, há um breve resumo do livro e a apresentação de um ponto específico da narrativa para servir de base à elaboração do texto do aluno. Daqui, segue a proposta:

O tema é uma pergunta. Uma pergunta que aceita duas respostas: sim ou não. O que acontece é que acabamos entrando num esquema de escrita muito mais simples que o do ENEM: se sim, por quê? se não, por quê? Há um meio termo? Se há, qual é ele? Se não há, por quê? O problema é que perguntas sempre deixam os alunos preocupados, né? O que se precisa lembrar é que, numa argumentação aberta, diferente das argumentações fechadas propostas pelo ENEM, não há resposta absolutamente certa ou absolutamente errada. Nesse sentido, uma dica muito valiosa para esse tipo de vestibular é a seguinte:
Eu tenho uma opinião sobre essa tema?
É esse simples questionamento que faz com que a leitura dos livros seja tão importante nos vestibulares estaduais: os livros que te farão ser capaz de responder essa pergunta. Lendo O seminarista, ou mesmo qualquer obra de Rubem Fonseca, é impossível não conseguir entender como se dá a visão de mundo dos criminosos que ele apresenta: são sujeitos complexos, que tem seus motivos para cometerem crimes, motivos que são até defensáveis às vezes. Assim, diante dessa mudança de visão que a literatura permite é que a pergunta do tema se coloca: você conseguiu confrontar o que o livro apresentou com a sua visão de mundo? Com a sua realidade? Isso foi produtivo para você? A partir desse confronto, você consegue se posicionar em relação ao tema de forma própria?
Nessa redação, por exemplo, você pode apresentar contextos em que se justifique um crime por vingança, como no próprio livro, ou afirmar que eles são absolutamente inaceitáveis, porque um crime é sempre um crime, ou mesmo dizer que eles são sempre aceitáveis, talvez porque a Justiça não funciona. O que não se pode perder de vista é que, no
momento em que uma posição for tomada, você precisa segui-la até o final. Para isso, vale o mesmo esquema apresentado no ENEM: quando você se posiciona, é você quem fecha o tema e não a banca. Nesse sentido, ao se defrontar com uma prova dessas, sempre pense em reescrever o tema proposto, riscar mesmo, e escrever um novo tema de acordo com o posicionamento que você quer apresentar. Assim, há muitos temas possíveis baseados nessa pergunta que você poderia desenvolver no seu texto:
Justiça com as próprias mãos: uma barbárie persistente no Brasil. (contrário)
A ineficiência da justiça como causadora dos crimes de vingança no Brasil. (favorável)
A vingança como fator atenuante de um ato criminoso. (ponderado)
O perigo que os crimes de vingança representam para o funcionamento da Justiça. (contrário)
Eu apresentei esses quatro temas-secundários: dois contrário, um favorável e um ponderado; mas você poderia pensar em muitos outros de acordo com a leitura que tenha feito do livro. Além disso, o livro também pode ser encarado como um texto motivador: as questões que são levantadas podem, e muitas vezes devem ser trazidas para a sua argumentação. No entanto, também é importante não se restringir a ele, apresentando outras informações que colaborem para o seu ponto de vista.
Com tudo isso dito, vale ressaltar uma última vez que o principal, tanto para os vestibulares estaduais quanto para o ENEM, é ler o tema com bastante cuidado, ler os textos motivadores com cuidado, ler os livros com cuidado. Não é preciso inventar a roda, tirar ideias da cartola para construir uma boa redação. Por isso, fica a última e mais importante dica:
Tudo já está na proposta, basta ter cuidado para ler.

Andrey Carvalho é estudante de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, apaixonado por escrita, monitor e um dos novos colaboradores do blog Pluvie Publications.
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