top of page

YOU KNOW I'M NO GOOD

  • Foto do escritor: Débora Pluvie
    Débora Pluvie
  • 18 de dez. de 2017
  • 3 min de leitura

"I cheated myself, Like I knew I would, I told you I was trouble, You know that I'm no good"




Marina era uma dessas mulheres que pouco manifestam suas opiniões, das que mais observam que falam. Tinha uma relação com o Pedro há cinco anos e sentia que, de alguma forma, eles precisavam chegar a um lugar que não fosse a casa dos pais.


A saga para comprar as alianças incluiu algumas – 8 horas – de indecisão pelo modelo, dois cartões de crédito rejeitados, umas 27 ligações para o banco, o medo de ser assaltado e uma linda jóia brilhante dentro de uma caixinha da Vivara.


Assim, depois de muitas discussões, planejamentos e a consequente certeza que suas vidas seriam melhor vividas juntos que separados, Pedro planejou um fim de semana em Búzios – região de praia do Rio de Janeiro – e, ajoelhado diante de um restaurante, a pediu em casamento. Para uma mulher de quase trinta e suas poucas palavras, Marina deu um show em suas comemorações – é ele! – dizia ela às lágrimas no grupo que compartilhávamos.


Há muito eu não tinha a prova real que sonhos de algumas pessoas se tornam realidades em certas casas.


Diferentemente do mar de rosas e confiança que meu estimado casal de amigos experimentava, eu e Miguel nos pegamos diante de diferentes impasses. Tudo começou quando saiu o resultado de sua mudança para São Paulo e as minhas mais profundas incertezas – não acerca dele, mas sobre a minha vida apareceram mais uma vez. Eu deveria me mudar? Qual e como seria minha carreira? Eu deveria investir na relação? Seria muito cedo? Qual seria a opinião de meus pais sobre isso? Qual seria a opinião dele sobre isso?


Logo depois vieram as festas de fim de ano – na empresa, dos amigos, do pagode, formaturas, eventos de família – e nossos encontros ficaram, naturalmente, mais escassos, e, óbvio, minha ansiedade, mais aguçada.


Nos momentos vazios entre as tarefas a que me dispus completar – como o planejamento do blog, o francês, as leituras atrasadas e os trabalhos como revisora freelancer – acompanhava a série “The Crown”. Sempre fascinada pelo universo da realeza inglesa, aquela série era como heroína para mim. Se em algum momento, você acompanhou – a série ou a vida dos integrantes da família Windsor – sabe que ​a princesa Margareth e seu futuro marido, o fotógrafo Antony Armstrong-Jones - se relacionaram por razões de cunho desconhecido a não ser uma. Ela, apaixonada por um antigo amor, Peter Townsand, e Tony, apaixonado pela vida, viviam se gabando pelas razões as quais jamais dariam certo enquanto casal. No entanto, juntos, os dois viviam a loucura de um amor tão intenso que os fazia pagar a língua por todas as palavras jogadas aos ventos para os outros.


Seria esse o segredo de um amor duradouro? Seria enxergar no outro ​aquilo que você mesmo representa?


Um sonho saber quem eu sou e o que represento – uma jovem mulher com méritos próprios, que vê à frente, uma mulher livre? Sim. Uma mulher livre para viver, para amar e livre para romper com tudo. Tudo?


Nossas discussões, naquele momento, eram resumidas às noites que passávamos separados – e eu, olhando pela minha lente apenas, de alguma forma me vi como há um ano: vagando bêbada, louca, sem limites, em uma cidade que me oferecia o que eu quisesse – menos ele.


Eu não queria ser aquela pessoa novamente, ainda que a loucura me seduzisse a cada minuto. Sabe a história que quanto mais olhamos para o poço mais ele nos encara de volta? Era a definição do meu eu.


As mulheres loucas, imprecisas, que provavam o extremo sempre me olharam de pertinho. Virgínia Woolf, Clarice Lispector, Amy Winehouse, princesa Leah e a própria Margareth estavam sempre ali acenando e piscando, dispostas a oferecer as mãos. A verdade é que o “quase” nunca tocou a praia das minhas escolhas – mesmo sendo necessário em tantas ocasiões. No fundo, o mais fácil seria me deixar sucumbir à loucura, me entregar à suposta rejeição de um amor tão grande. No entanto, não é loucura maior viver?


No final das contas ​a loucura de amar corresponde à doação. É o gesto mais oposto ao egoísmo que pode existir. Deve ser por isso que eu o evitava, que eu repelia essa entrega. Amar é dedicação, é ouvir não, é negar as vontades próprias pela gratuita vontade do outro. Amar é entender que todas as minhas escolhas estarão pautadas no outro. Será? É mais fácil sofrer de amor. Sofrer de amor é medíocre, é egoísta, é natural. Nascemos seres que estão acostumados ao sofrimento. Sofremos o tempo inteiro e por isso naturalizamos esse sentimento.


Assim, algo grandioso como o amor vai de encontro a toda facilidade existente no universo. Por isso, por vezes, calar e ouvir era necessário. O espaço era necessário, como os hiatos de Marina.

Comments


 Deixa eu te contar:

 

"Acordar não é de dentro.

Acordar é ter saída.'

João Cabral de Melo Neto

segue lá:
  • Facebook B&W
  • Instagram B&W
 POSTS recentes: 
 procurar por TAGS: 
bottom of page