top of page

É preciso

  • Foto do escritor: Débora Pluvie
    Débora Pluvie
  • 13 de out. de 2018
  • 2 min de leitura

Rápido é o sonho, apenas,

que se vai, de mandar

notícias amorosas

quando não há amor

a dar ou receber;

quando só há lembrança

ainda menos, pó,

menos ainda, nada,

nada de nada em tudo,

em mim mais do que em tudo,

e não vale acordar

quem acaso repousa

na colina sem árvores.

Contudo, esta é uma carta.

Carta, Drummond.

Sobre você eu mantive silêncio por alguns dias - e talvez eu deveria ter feito isso por seis anos. Você reapareceu e, de modo diferente de tantas outras vezes, eu não senti Desejo ou Saudades; senti medo. Depois de todas as palavras mal empregadas, atitudes não pensadas e noites pouco dormidas, eu não tive energia para levantar, te encontrar no meio da noite e dormir contigo na esperança que você dissesse que não iria embora.


O fato repousa em que mesmo depois de desligar o telefone, sua voz ecoava insistentemente - e eu podia lembrar de como seu sorriso se abria quando me via ou de como eu ficava à vontade na cama com você.


Depois de seis anos, aquelas cenas durante as madrugadas não parecem tão convidativas quanto antes - e ainda assim, você não tinha o direito de se aproximar como se fossemos mais um casal mal resolvido - e não éramos?


Será que se eu tivesse ido, você ficaria ao meu lado do mesmo modo que infinitas vezes eu fiquei por você? Por que você ainda faz isso?


Agora, mais do que nunca, é preciso deixar você ir... e dói muito; no entanto, dói mais querer de você algo que é incapaz de dar. Fico pensando em como deve ser a dor de quem perde alguém pra morte - mais vale um amor recíproco morto ou uma vida ao lado de alguém que nunca o amará de volta?


Em um universo tão complexo como o que teimamos viver, grandes histórias de amor têm perdido o protagonismo; e isso deve ter um motivo - que continuo sem saber qual é. Todos os homens os quais amei, de alguma forma, brincaram de me fragmentar e é incrível como a "suposta lei do retorno" é injusta. Seria a culpa minha? Que voz é essa que dá poder ao outro para fazer de nós - pessoas que amam - o que quiser?


Não sei como ou onde ou quando me apaixonei por você - foi algo tão visceral que não percebi o momento que tomou conta de cada parte do meu corpo, da minha mente e dos meus planos.


É preciso deixar você ir para que eu tente, lute e, principalmente, para que eu fique. Você foi o interlocutor mais assíduo das minhas cartas de amor - e esta é finalmente a última. Sigo te amando, mas não posso desistir de viver um Amor porque você não me amou de volta - é preciso que eu aprenda a amar de novo, a amar diferente; e pode ser que eu nunca saiba, mas não posso deixar de tentar. É preciso que eu me permita ser cuidada - nem que seja por mim mesma. É preciso que eu me permita encantar por outro poema, outra música, outra noite. É preciso que sinta paz ao sorrir a outro alguém - ainda que seja olhando para o espelho. 


É preciso que eu enxergue uma vida sem você.


É preciso deixar ir. 


Comments


 Deixa eu te contar:

 

"Acordar não é de dentro.

Acordar é ter saída.'

João Cabral de Melo Neto

segue lá:
  • Facebook B&W
  • Instagram B&W
 POSTS recentes: 
 procurar por TAGS: 
bottom of page