O mundo, meu amor
- Débora Pluvie
- 19 de ago. de 2018
- 2 min de leitura
"Supôs que queria ensinar-lhe a viver sem dor apenas, ele dissera uma vez que queria que ela, ao lhe perguntarem o nome, não respondesse "Lori" mas que pudesse responder "meu nome é eu", pois teu nome, dissera ele, é um eu. "
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, Clarice.

Fonte da imagem: https://www.instagram.com/viihrocha/
Eu posso rir até me cansar, chorar até não ter mais fôlego, ouvir todas as músicas que marcaram a minha história. Posso estudar, trabalhar, ser promovida e bem remunerada. Posso me arrumar pra sair todas as sextas e sábados, colocar o batom vermelho mais bonito e ser desejada. Posso ficar com o cara mais desejado. Posso não ligar no dia seguinte. Posso desistir do amor. Posso viajar, conhecer o mundo, caminhar e olhar o nada. Posso comer macarrão até enjoar, cogitar ser vegetariana, ser vegetariana, desistir e tentar de novo. Posso nunca desistir. Posso lutar contra o pânico, sonhar com o infinito e acordar feliz. Posso dançar, machucar o pé, perder a timidez e conhecer todas as pessoas do Rio de Janeiro. Posso parar, pensar e escrever - ou escrever sem pensar. Posso pensar no passado, desejá-lo ou descartá-lo. Posso me entregar ou posso resistir. Posso ser eu. Posso rir, chorar, trabalhar, estudar, sair, beijar, pegar, lutar, sonhar, escrever, pensar, escrever, desejar, descartar, entregar ou desistir. Posso o infinito. No entanto, nada disso, dessa minha vida, se compara aos pezinhos nus despretensiosos, adolescentes; à vontade que eles tinham de viver, de amar, de ser eles mesmos. Nada disso se compara ao silêncio que havia entre duas respirações conjuntas. Nada. Eu quis te dar o mundo, mas no fim das contas meu mundo era grande demais e carrega-lo nunca foi fácil, não foi pra mim – e não seria por você. Saudades. Ainda te espero nem que seja para o abraço que ficou pendente no hiato de nós dois. Felicidades. Sempre. Ainda, eu. Não mais sua, mas minha mesmo.
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