Outono
- Débora Pluvie
- 27 de mai. de 2018
- 2 min de leitura

As folhas secas do dia que marcava 18 de maio davam pulinhos ao longo da calçada e o vento era quase frio quando, na esquina, assisti - invejei, contemplei - a um dos encontros mais tocantes que me foi dado deleite em vida. Mais que os meus encontros e desencontros, aqueles segundos de contemplação suscitaram em mim uma viagem entre o passado e o futuro, tudo que fui e as múltiplas possibilidades de um futuro à frente.
Ela, descendo do táxi, atordoada, cabelos negros amarrados com um laço na cabeça, duas malas em mãos e um sorriso de saudades tão gostoso de olhar que cativou não só meus olhos curiosos como também o coração de quem a ajudava a descer do carro.
- Você me esperou - ela disse.
- E você veio - o garoto da barba escura, olhos transparentes e braços cheios de sonhos respondeu.
Nem mais uma palavra. Ela largou as malas ali mesmo no chão ao passo que ele a envolveu em seu braços - e eu, o tempo e as folhavas travamos naquele rompante como se o mundo tivesse pisado no freio.
Eu fiquei olhando aqueles gestos imprecisos porque um encontro daquele nada tem de precisão - ou razão: nem gargalhadas nem lágrimas, nem realidade nem sonho; ou talvez os quatro traduzidos no silêncio que existe no abraço.
Não me pergunte quanto tempo durou. Eu não saberia responder. Naquele fim de tarde, ao caminhar de volta a minha casa, comprei um café e engoli aquela angústia de recordar de um encontro que, certa vez, me prometeu a eternidade.
Cheguei, já era noite e o crepúsculo anunciava tempestade: a lua não aparecia. Deitei sozinha e em poucos minutos o insistente barulho de chuva seduziu meu sono ao seu domínio. Acordei no meio da noite e espiei a janela - agora aberta: por mim, pelo vento, pelo encontro da chuva com a lua que timidamente sorria encharcada.
Após uma noite de tanta água, o otimista olhava para o céu e via a lua - e o pessimista olhava para o chão e via apenas poças d'água no concreto.
Restou a mim a escolha entre a saída e a chegada, o abandono ou a espera, as folhas ou o encontro e, por fim, entre a lua e a poça.
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