HIATO
- Débora Pluvie
- 21 de jun. de 2018
- 2 min de leitura

... as crianças estavam penduradas no sono, abriu o meu caminho e eu enxerguei tudo aquilo que de alguma forma eu teimava esconder. A Áurea daquele lugar era capaz de arrepiar todos os meus fios de cabelo de modo que aquela sequência de imagens silenciosas em minha mente proporcionou uma visão mais clara sobre mim, sobre você e sobre o motivo de ter existido nós dois no mundo. Talvez tudo isso tenha sido um sonho - e agora, ao meu despertar, as lembranças estão esmaecidas, mas ainda assim mais claras. No escuro, a sensação era de uma vida inacabada, cheia de arestas pontudas e sedutoras. Para ilustrar esse momento de iluminação, eu poderia escrever um poema épico, ou quem sabe uma lira cheia de grandes palavras e versos metrificados para te emocionar - para te pedir pra ficar, pra te convencer de mim, mas eu não posso mais. O mais fácil, de fato, seria fingir que nada aconteceu e que o caminho não se fez iluminado em mim. Seria fácil ignorá-lo e sucumbir à loucura, sofrer, chorar, mas eu não posso mais, eu escolho não poder mais. Eu escolho ser feliz - por mim e pelos meus - aqueles que sonham um sonho tranquilo confiando suas vidas ao meu amor. Pode ser que em um futuro nós compartilhemos interesses, uma amizade ou até mesmo uma casa, mas hoje eu não posso mais desejar isso, eu escolho não desejar - e para que isso aconteça eu preciso enxergar essa luz em um silêncio só meu, pessoal, sem interferências. Preciso reaprender a atravessar sozinha. Antes poderíamos pensar que aquilo que cultivávamos era grande - e o tempo, as crianças, a vida e os livros teimavam em nos querer convencer de tamanha falácia. Em plena luz, enxergo que um Amor suficientemente grande supera a distância, o sofrimento e até a luz; e para continuar acreditando nisso, preciso estar sozinha - sem você e sem ninguém: eu, a luz e a estrada. Não se preocupe em saber em que ponto do caminho estou ou quanto tempo demorarei pra chegar - essa é a última coisa que eu quero. Preciso levantar, caminhar e deitar em paz, tendo orgulho de quem eu sou e do resultado das minhas ações. Lá na frente, de alguma forma, a vida, a estrada ou a luz te mos mostrará no que me tornei. Eu vou ficar bem. E vc também.
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