Hoje eu vou ler pra você
- Débora Pluvie
- 22 de jul. de 2018
- 1 min de leitura

; e a cada verso de Pessoa mais
eu te sentia ali –
me olhando ler.
Sentia teu cheiro;
tua Presença;
tua Mensagem: que mensagem?
Não sei.
Sentia.
“Eu não tenho filosofia. Tenho sentidos”
e tenho você aqui.
Esta noite
Só hoje
permiti tua entrada
devagar
pela sala
pela escada
pela minha porta
por nós
pela vida
pela saudade
Pela saudade?
Pela saudade não.
Por hoje.
Por hoje
“Eu nunca guardei” saudades
Mas é como se as guardasse
Você ouvia minha voz sussurrando Pessoa
E pedia
-Meu bem, leia mais de perto
E quanto mais perto eu chegava
Mais o vinho
a palavra
Pessoa
O Rebanho
E o Agora
Me faziam esquecer a vida amarga
as pessoas fragmentadas
a distância
Hoje você não tirou os olhos da minha boca
Não tirou a boca de mim
Não tirou as palavras dos meus lábios com os seus
Porque
Hoje
Quem lia era eu
Eu tinha a voz de permitir você entrar
-Entra, eu disse
Fique à vontade
Hoje eu vou ler pra você
Eu disse
e você ouviu
e entrou
Mas ao fim
Da noite
Da leitura
Das palavras
Das bocas
Dos olhares
Da Mensagem
E sim, da sua Presença
A vida continuava sendo amarga
E você foi embora
Triste como quem “esmaga flores em livros”
Como quem “põe plantas em jarros”,
eu fiquei.
Boa noite!
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