12 de agosto
- Débora Pluvie
- 13 de ago. de 2018
- 3 min de leitura

“Amigos que hoje eu encontro em dia de boa sorte, vou lhes contar uma bela história de amor, de vida e de morte.” A história de amor de Tristão e Isolda Bebendo das fontes de toda e qualquer licença poética, o conto que vos conto hoje abona o conceito de medo enquanto aspecto final de um enredo, mas o engloba ao passo que a Vida - aqui - será nosso protagonista. Ainda era cedo para acender as lâmpadas de uma nova página a ser escrita. Entretanto, o tempo é uma abstração, disse o poeta - e acreditamos nele. Quando finalmente os enxerguei - seus olhos - vi que eram como brutos diamantes ou qualquer pedra de valor; e, exatamente então, eu não ouvia coisa alguma - e perdi a fala quando me deixei sucumbir pela loucura/aventura/beleza de me permitir te dar um beijo e me atirar ao teu desejo; de me permitir o impermitível; de esconder o que ninguém precisa saber e de ser o que urgia (voltar a) ser. Lembrei-me de como era antes destes momentos de agora - talvez eu fosse, antes, ontem, uma mulher que procurava um modo, uma forma; e por ora o que tinha, na verdade, era tão mais perfeito que qualquer canção idealizada a meu futuro: a grande liberdade morava em não precisar ter modos ou formas ou explicações que dessem conta de um microcosmos tão meu - tão nosso. Pois é. Sem entender os porquês ou as motivações para fragmentar toda a incrível dureza do meu coração, eu o enxerguei - ali - em uma mesa pra dois - e em um universo tão cheio de nada, seu olhar novo, fresco, me olhava cortando todas as ideias de um futuro próximo em Paris ou em Nova Iorque ou em Brasília; e cuspindo na cara dos medos que até então me assombravam. Você lembra de quando meu sorriso encontrou o seu em mais um despretensioso encontro de fim de ano? Ali, talvez, você já estivesse pondo em prática seu instigante plano de me examinar por dentro - não sei - ou sei: seus olhos gritavam meu nome ainda que tão distantes e tão calados. Olhos calados - o que gente rara faz pra estabelecer comunicação. Gente rara não precisa da quinquilharia que o mundo inteiro teima carregar. Foi nesse estado novo, epifânico, confiante que resolvi me entregar aos encantos não só de minha nova descoberta: seu sexo, mas a algo tão indescritível quanto quem entende um poema pela primeira vez. Talvez seja isto: você foi/é/está sendo o poema novo que teimei escansionar - decifrando cada verso como se fosse o último. Sem pressa. Sem medo. Sem dúvida do quanto é bom. Eu poderia aqui tentar colorir nosso sexo - e isso seria tão eficiente quanto “mascar chiclete pra resolver um problema matemático”. Eu estava ali. E você também. Me reparou. Me refletiu. Ignore, por favor, minhas tolas tentativas de exprimir algo tão único, tão poético, tão nosso e tão nada clichê como nosso último domingo - sendo este o última ou não. Por vezes a vida só precisa de epifanias, de sutis abastecimentos de mágica para que volte a ser - ou seja - mais bonita; ou para que faça mais sentido ainda que nada disso, talvez, tenha sentido. Em mais uma tentativa falha de transpor mil ideias multiplicadas pela possibilidade de mil instantes únicos, escrevo esta carta/prosa/lírica de modo que a lógica disso tudo possa nos abandonar e que eu te olhe no próximo ano com vontade tal a te abraçar com um desejo tão descomunal como naquela noite. Ignore, mais uma vez, a ausência de sentido e curta a deliciosa possibilidade de ser nós sempre, 12 de agosto, - e quando mais fizer sentido (ou não). Eu poderia aqui tentar desvendar este enredo com todos os cem sem motivos que motivaram esta história a ser uma má ideia. Ainda assim, prefiro acreditar que nada disso foi apenas um deslocamento atômico que culminou em um (em dois) instantes únicos capazes de por poucos segundos aplaudir a vida e zombar do medo em noite de boa sorte.
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